Os pais das crianças que fazem 6 anos este ano e depois do dia 15 de Setembro deparam-se com o dilema de os inscrever ou não no 1.º ciclo, sabendo que entrarão no 1ºano com 5 anos ou quase com 7 anos de idade. Esta transição é sempre um momento de grande preocupação para os pais que tentam perceber se os seus filhos se encontram em condições de realizarem uma transição escolar bem-sucedida para o 1º ciclo.
Tentaremos ajudar os pais a tomar uma decisão mais consciente, sabendo que é complicado utilizar um calendário de entrada na escola que se ajuste a todas as crianças, uma vez que cada uma tem o seu ritmo. Esta é uma questão mais relacionada com o nível de desenvolvimento global da criança, com a sua maturidade, e não especificamente com a idade cronológica.
Aspectos a ter em conta:
- Nível de desenvolvimento efetivo da criança, que pode ser comprovado através de provas específicas que permitem perceber quais as áreas mais fortes e as que precisam de ser estimuladas.
- Nível de desenvolvimento potencial da criança, que pode ser percebido tendo em conta as atividades que já realiza com ajuda e que em breve conseguirá fazer sozinha.
- Nível de maturidade, essencial para conseguir entender o que se lhe ensina e o que se lhe exige, o que será refletido nos seus resultados.
- Características individuais da criança, ou seja, a personalidade e autoconceito, suporte familiar e educacional.
- A legislação atual prevê um currículo quase à medida de cada aluno. Caso as escolas consigam garantir as condições para que todos os alunos desenvolvam o seu potencial ao nível de conhecimentos, competências e atitudes a entrada no 1.º ano de escolaridade não seria uma preocupação, qualquer que fosse a escolha dos Encarregados de Educação em termos de idade do seu educando.
Os argumentos para a entrada na escola mais cedo
prendem-se com a existência de uma certa pressão social no sentido de fazer acontecer a aprendizagem formal cada vez mais cedo; a inteligência e o interesse pelas atividades escolares que a criança demonstra; a incompreensão perante o facto de os colegas entrarem no 1.º ciclo por terem a idade prevista; e o risco de desmotivação por alguma repetição ou facilidade na execução das tarefas escolares, uma vez que ficam mais um ano na educação pré-escolar.
Os argumentos para a entrada na escola mais tarde
prendem-se como possível comprometimento do sucesso no percurso escolar, quer em termos de desenvolvimento de competências académicas, quer em termos de relações ou comportamentos que estabelecem e adotam; o risco de iniciar um processo de aprendizagem para o qual podem não estar preparados, levando ao insucesso e à frustração; a existência de fragilidades em termos de maturidade e capacidade de resolver problemas no dia-a-dia; um ritmo mais lento na realização das tarefas escolares, bem como falta de atenção/ concentração e necessidade de acompanhamento mais personalizado; e o facto do esforço intelectual precoce poder ter como consequência um enfraquecimento das capacidades sensitivas, sociais e intelectuais, cansaço escolar ou perda de motivação.
Isto não significa que todas as crianças que entrem na escola aos 5 anos de idade não tenham capacidades, quer cognitivas quer emocionais, para ter um bom sucesso escolar. Contudo, por exemplo, se a criança já sabe ler, escrever e fazer contas mas não tem maturidade emocional nem a capacidade de adiar a recompensa ou esperar pela sua vez, então a integração prematura poderá ser um erro.
É importante referir, ainda, que a educação pré-escolar revela-se essencial para o desenvolvimento pois, através do brincar, as crianças conquistam capacidades fundamentais no desenvolvimento motor, na linguagem, no âmbito social e ético, sobre as quais, mais tarde, é construída a aprendizagem escolar. A par, é fundamental que os pais estimulem o desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo através tanto de atividades programadas, como de brincadeiras.
Saiba que, acima de tudo, deve ser respeitado o ritmo e a etapa de desenvolvimento de cada criança e que cada criança tem as suas características individuais e, como tal, requer um olhar diferente e uma decisão específica.
Sandra Margarida Santos
Psicóloga Clínica