Confinados há já 1 ano, a ânsia pelo contacto social é transversal às crianças, jovens e adultos de todas as idades. Embora os efeitos a longo prazo da pandemia sejam desconhecidos, as consequências do isolamento social prolongado nas crianças e jovens ao nível da saúde mental é já uma preocupação. Precisando as crianças e os jovens de socialização para um desenvolvimento saudável, as condições do confinamento social propiciam o surgimento de problemas de saúde mental.
Tendo em conta que a socialização é a chave para o desenvolvimento, diversos estudos têm mostrado o impacto do confinamento ao nível do cérebro e do comportamento. De facto, o isolamento provoca uma desregulação geral da dopamina, levando ao surgimento de tristeza, ansiedade, agitação, irritabilidade e agressividade, com dificuldades de aprendizagem e atenção. O isolamento social pode gerar, ainda, sentimentos de solidão, que surge associada à depressão clínica e à ansiedade, mesmo meses depois. De facto, crianças solitárias podem criar amigos imaginários, desobedecer, agir como “palhacitos” para chamar a atenção, depender excessivamente dos pais, demonstrar inseguranças ou revelar alterações de sono e de apetite. Os jovens podem também mostrar-se tristes, isolar-se nos seus quartos ou criticar-se demasiado.
De forma a minimizar o impacto do isolamento social, é imperativo as crianças e os jovens manterem contactos socias com segurança, conversarem com os pais ou cuidadores, serem escutadas acerca dos seus sentimentos e poderem aprender estratégias para os conseguir gerir. Afeto, compreensão e atenção para com os comportamentos dos mais novos são essenciais, pois a expressão de problemas como a ansiedade ou depressão nas crianças pode ser diferente, mas com a mesma intensidade vivida pelos adultos. A organização de uma rotina permite criar previsibilidade e transmitir segurança. O investimento de tempo em atividades prazerosas e de relaxamento com as crianças e jovens favorece o equilíbrio emocional. Para além disso, a comunicação através de videochamadas e redes socias, mantendo-se em contacto com os amigos e familiares, pode aliviar os efeitos da solidão nas crianças e jovens.
O impacto psicológico nas crianças e jovens depende muito da reação dos pais ou adultos em casa. Esteja atento à forma como se sente e às suas reações. Ninguém é forte o tempo todo. Todos passamos por momentos mais difíceis que precisam de ser respeitados. Por vezes, as reações, os sintomas e sua duração, bem como os conflitos intensificam-se, sendo importante procurar ajuda psicológica.
Sandra Margarida Santos
Psicóloga Clínica